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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Negros, mestiços, índios e mulheres na sociedade sergipana do século XIX

A situação de negros, mestiços, índios e mulheres em Sergipe no século XIX não era muito confortável. Todas essas categorias de pessoas sofriam preconceitos e tinham a sua força de trabalho explorada, cada uma com suas peculiaridades.
Nesse período a escravidão era considerada imprescindível para o progresso de determinada região, algo natural da sociedade, legitimada pela presença do pelourinho nos núcleos de povoamento. Os negros fugitivos ou que faziam algo que desagrava o senhor poderiam ser punidos com castigos severos, embora muitos senhores agissem mais brandamente a fim de evitar prejuízos caso o escravo morresse ou ficasse inapto ao trabalho. A maior concentração de escravos se deu na região da Cotinguiba, do Vaza-Barris e do Piauí, ou seja, nas regiões produtoras de cana-de-açúcar. A exploração do escravo negro acabava motivando rebeliões, fugas e a formação de núcleos de resistência: os quilombos. Os quilombos sergipanos apresentavam especificidades em relação a outros locais, pois utilizavam a tática de guerrilha e a divisão dos quilombolas em pequenos grupos.


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Outro grupo bastante discriminado nesse período são os mestiços, constituídos pela população livre e pobre. Os mestiços eram mal vistos pela elite, sendo classificados como vagabundos e desocupados. No entanto, com o declínio do trabalho escravo, a partir de 1850, devido à abolição do tráfico, as mortes causadas pela epidemia de cólera entre outros fatores obrigaram a elite agrária a empregar os mestiços na lavoura canavieira.


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Já os índios no século XIX viviam da agricultura de subsistência e da pesca, exercendo também vários ofícios e outros trabalhos assalariados. Os índios passaram a ser encarados pelos senhores de engenho como entraves para o desenvolvimento da indústria agroaçucareira, pois praticavam saques nas fazendas e ocupavam terras que poderiam ser aproveitadas para o plantio da cana. Por isso, o governo se aliou a igreja a fim de legitimar a posse das terras indígenas.


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A mulher vivia praticamente como escrava, vez que não tinha qualquer participação nas decisões da família, resumindo sua atuação as tarefas domésticas e a procriação. A mulher quando não tinha seu casamento arranjado era obrigada a se isolar em conventos, tudo para proteger o patrimônio familiar. A condição da mulher só será alterada a partir da chegada da Corte, em 1808, que provoca mudanças na sociedade brasileira. Com isso as mulheres puderam frequentar escolas particulares para o sexo feminino e posteriormente com a criação das escolas normais, são formadas para exercer o ofício de professora.


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Podemos concluir que na sociedade sergipana do século XIX negros, mestiços, índios e mulheres não tinham voz.  Prevaleciam os interesses da elite branca masculina que ditava as regras e fazia prevalecer seus interesses.

Referências:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Fios do inesperado e da resistência: negros, índios, mestiços e mulheres em Sergipe no século XIX. In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010.

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domingo, 18 de setembro de 2011

O açúcar e a prosperidade

A partir do início do século XIX ocorre um crescimento na produção de açúcar em Sergipe, sobretudo na microrregião do Cotinguiba e no vale do rio Vaza-Barris. Antes desse período predominava a criação de gado na província sergipana. A produção de açúcar em Sergipe foi resultado da associação de diversos fatores, tanto internos quanto externos. Com o crescimento do consumo de café na Europa a demanda por açúcar aumentou, coincidindo com a queda na produção em determinadas regiões como nas Antilhas, além disso, a região da Cotinguiba mostrou-se favorável a produção devido às boas condições do solo e do clima.    
De acordo com Maria da Glória Almeida a fragmentação fundiária em Sergipe teve dois momentos. O primeiro deles ocorreu entre 1840 e 1860, onde houve uma multiplicação dos engenhos devido à subdivisão por herança e o aumento da produção levando a fundação de novos engenhos. O segundo momento ocorreu a partir de 1860 denominado por ela de movimento acelerado de fragmentação dos engenhos, devido à morte da primeira geração, pondo em risco a existência de muitos deles, principalmente dos que acabavam sendo administrados por outras famílias.
Em relação a outras localidades os engenhos sergipanos eram pequenos e a aristocracia se apresentava bem modesta quando comparada a baiana e a pernambucana, por exemplo. Os engenhos tinham basicamente a mesma estrutura: a casa grande, a fábrica, a senzala e ao redor a plantação de cana-de-açúcar.
Em Sergipe existiram muitos engenhos, no entanto o de maior visibilidade e o mais estudado é o Engenho Pedras localizado em Maruim. Esse engenho, de acordo com Maria da Glória Almeida, foi administrado por várias pessoas através de um processo de sucessão hereditária que acabou levando a decadência do engenho.
O progresso do açúcar levou a ascensão econômica e política de alguns núcleos de povoamento na região do Cotinguiba no século XIX, tendo papel de destaque o núcleo de Laranjeiras. No entanto, esse crescimento econômico necessitava de um porto para escoar melhor a riqueza, pois até o momento o escoamento era feito pelo porto de Salvador. O governador da época era Inácio Barbosa, que decide transferir a capital de São Cristóvão para Aracaju visando construir um porto posteriormente, além disso, a nova capital era mais próxima da região da Cotinguiba que era o centro de produção das riquezas. Associado a necessidade de um porto existia também certo desprezo por São Cristóvão, devido a sua estrutura urbanística (ruas tortas e estreitas, algumas ladeiras) que não combinava com a prosperidade de Sergipe e com o espírito de modernização surgido no Brasil a partir de 1850.
Concluímos que a maior parte das mudanças ocorridas em Sergipe, a partir do século XIX, ocorre por conta da produção açucareira que modificou profundamente a sociedade, a política e a economia, levando inclusive a transferência da capital.

Referência:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Anos de prosperidade e mudanças: a sociedade do açúcar e a necessidade de uma nova capital sergipana. In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A importância das câmaras e dos levantes para a Independência de Sergipe

A Coroa portuguesa utilizava de diversos símbolos e instrumentos para impor autoridade nos núcleos de povoamento coloniais, entre eles estão o pelourinho, a igreja, a alfândega, a cadeia e a câmara municipal.
Esta última, a câmara, exercia papel fundamental no controle da Coroa sobre os núcleos de povoamento, no entanto a parceria entre os senhores de terras locais e o poder colonial começa a apresentar problemas a partir de fins do século XVII. Num primeiro momento havia interesses comuns entre a metrópole e os proprietários de terras (que comandavam as câmaras), mas num segundo momento os camaristas passam a apresentar um poder local excessivo, desagradando a Coroa.
A Coroa percebe esse aumento de poder dos camaristas e adota algumas medidas restritivas, levando ao surgimento de reivindicações populares que fomentaram o processo de independência de Sergipe em relação à Bahia.
A cobrança absurda de impostos, a remessa de gêneros alimentícios para a Bahia, a invasão dos ouvidores nas decisões das câmaras, a exigência da cobrança de impostos pela passagem de gado pelo Rio Real, associados a outros fatores foram decisivos para a emancipação de Sergipe frente à Bahia.
As câmaras municipais em Sergipe, formadas por proprietários de terra e criadores de gado, tinha divergências entre si, mas havia um ponto em comum: o interesse de liberta-se do domínio baiano. Unidos por esse interesse comum, a maior parte das câmaras municipais se insurgiram contra a dominação baiana, que acabou culminando com a emancipação política de Sergipe.
Portanto verificamos que as câmaras municipais tiveram papel relevante para a independência de Sergipe, e embora seus membros apresentassem divergências de interesses, uniram-se em torno de um desejo comum: a libertação do domínio baiano.

Referência:

SOUSA, Antônio Lindvaldo. Das insubordinações e protestos à independência da capitania de Sergipe. In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010. 

Descrição da Cidade de Sergipe Del Rei por Gregório de Matos e Guerra (1636-1695)

Três dúzias de casebres remendados,
Seis becos de mentrastos entupidos
Quinze soldados rotos e despidos
Doze porcos na praça bem criados.

Dois conventos, seis frades, três letrados
Um juiz com bigodes sem ouvidos
Três presos de piolhos carcomidos
Por comer dois meirinhos esfaimados.

As damas com sapatos de baeta
Palmilha de tamanca como frade
Saia de chita, cinta de raquete.

O feijão que só faz ventosidade
Farinha de pipoca, pão de greta
De Sergipe Del Rei esta é a cidade.

Referência:

MOTT, Luiz. Sergipe Del Rey em três sonetos seiscentistas. Estudos Humanísticos, São Cristóvão, v. I; p. 125-8, 1990. (Acervo do Prof. Dr. Francisco José Alves)

Gregório de Matos, poeta conhecido pelos versos de humor ácido, descreve sua percepção sobre Sergipe no século XVII, mais especificamente a cidade de São Cristóvão. Nota-se que a cidade era pobre e pouco povoada nesse período, vez que a maior parte da população se concentrava ao redor das casas dos senhores de terra ou em sítios. Esse cenário só muda a partir do século XIX com a prosperidade econômica trazida pela cana-de-açúcar.