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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Resenha do Livro A terra dos Brasis

ASSUNÇÃO, Paulo de. A terra dos Brasis: a natureza da América portuguesa vista pelos primeiros jesuítas (1549-1596). São Paulo: Annablume, 2000.
           
            O livro é fruto da dissertação de mestrado do autor defendida no Departamento de História da Universidade de São Paulo, em 1992. A obra retrata a visão dos jesuítas sobre a natureza encontrada no Brasil, ou seja, a fauna e a flora, além disso, a obra mostra que a visão de mundo não apenas dos jesuítas, mas do homem europeu era baseada nos preceitos cristãos. Como fontes primárias o autor utiliza várias cartas de jesuítas escritas no período, além de vasta bibliografia sobre o tema. A obra está dividida em quatro partes distribuídas em treze capítulos e considerações finais do autor.
           
RESUMO DA OBRA

PRIMEIRA PARTE: No Orbis Christianus

Capítulo I: O mundo natural capturado pelo cristianismo

Neste capítulo o autor vai tratar da visão de mundo do homem europeu do século XVI, e os jesuítas enquanto europeus também partilhavam dessa visão. De acordo com o autor essa visão “[...] era essencialmente cristã, o universo estava de acordo com os dogmas judaico-cristãos que estabeleciam um ente divino supremo, que regia a totalidade do universo, sendo o homem o administrador terreno do mundo natural.” (p. 25)
Neste sentido, a Bíblia é considerada a fonte primária de informações para o universo medieval (p. 25), onde Deus tem o papel central de organizar as relações entre a natureza e o homem.
De acordo com essa visão o mundo surgiu a partir da vontade de Deus (p. 27) para garantir a sobrevivência humana, então se o homem cultivar e preservar o mundo natural estará dando significado a criação divina (p. 28).
No entanto essa harmonia entre homem e natureza é rompido com o Pecado Original (p. 29). De acordo com o autor é a partir desse momento que surge o sentimento de alteridade, ou seja, é o momento em que o homem percebe é diferente dos elementos naturais, a partir daí o homem passa a ser representado pela positividade e a natureza pela negatividade (p. 29).
Mesmo sendo expulso, o homem nunca esqueceu o período em que viveu no jardim do Éden, por isso sempre buscou recuperar o paraíso. Nessa busca surgem vários intelectuais, a exemplo de Santo Agostinho cujo pensamento concebia “[...] que a razão era um dos estágios preparativos para o ato da fé [...]” (p. 32), ou seja, Agostinho é um representante do pensamento da época que unia a literatura clássica com os textos bíblicos.
No entanto, esse paraíso tão almejado pelo homem dos quinhentos não foi encontrado na Europa e as novas terras encontradas passaram a assumir o papel de paraíso terreal, sobretudo por apresentar características naturais que remetem ao jardim do Éden descrito na Bíblia como natureza exuberante, clima ameno e diversidade de animais (p. 35).

Capítulo II: A Igreja Católica no limiar do século XVI

            Neste capítulo o autor vai tratar das transformações sofridas pela Igreja Católica ao longo da sua história enquanto instituição, começando pela sistematização da tradição oral dos evangelhos para a escrita a partir do ano 70 d.C. (p. 44).
            O autor cita também a Reforma Gregoriana que procurou moralizar o clero e fortalecer a autoridade do Papa, a fim de consolidar e centralizar o poder da Igreja (p. 44). Neste capítulo também é citado a importância de Carlos Magno para a sistematização das leis canônicas e dogmas cristãos a fim e fortalecer a Igreja.
            Além disso, neste capítulo o autor trata das Cruzadas (1095-1291) que tiveram um duplo objetivo: ampliação da fé católica e ao mesmo tempo atender aos interesses comerciais das nações em busca de crescimento econômico (p. 45).
            A Reforma Protestante, empreendida por Matinho Lutero, foi mais um fator que contribuiu para as mudanças que a Igreja estava sofrendo no início o século XVI. Ao pregar uma relação direta do homem com Deus através da leitura das escrituras sagradas, Lutero critica principalmente o papel espiritual do papa e do clero como intermediários entre o homem e Deus (p. 49). A proposta de Lutero caiu como uma “luva” diante das insatisfações da população em relação à Igreja e atendia aos interesses econômicos dos novos Estados Nacionais imbuídos de um espírito independente que também faz parte da lógica Protestante.
            Diante do avanço Protestante a Igreja resgata a Inquisição, criada em 1183 no Concílio de Verona, com o objetivo de barrar o crescimento do Protestantismo e manter uma unidade na fé Católica. Outro ponto destacado pelo autor neste capítulo é o papel da Companhia de Jesus no Concílio de Trento (1545-1563), pois a Companhia defendia um modelo conservador de acordo com os primórdios do cristianismo, além de defender os princípios católicos e os bons costumes cristãos através de atividades educacionais e assistenciais (p. 52).

Capítulo III: A Companhia de Jesus: de Paris a Salvador

            Neste capítulo a obra trata da fundação da Companhia de Jesus, ocorrida no ano de 1534, em Paris, por Inácio de Loyola e mais seis amigos (p. 57-58). De acordo com o autor a Companhia de Jesus possui caráter assistencial e educacional, cujo objetivo dos educadores era disseminar o espírito cristão e assim alcançar a salvação da humanidade (p. 61).
Além disso, a Companhia se diferenciava das demais ordens porque se recusava ao isolamento em relação à sociedade (p. 61) e por conta disso sofreu algumas perseguições e críticas dos membros de outras ordens (p. 63). Embora sofrendo muitas críticas a ordem conseguiu grande sucesso em Portugal, conseguindo o apoio de D. João III, talvez porque o perfil da Companhia em contato direto com a população pregando o evangelho se enquadrasse perfeitamente aos anseios expansionistas do Estado Luso (p. 63).

SEGUNDA PARTE: Cartas Jesuíticas: ordem do saber e o saber da ordem

Capítulo IV: Em busca do elo perdido

            Este capítulo trata da chegada dos primeiros jesuítas no Brasil, que chegaram a povoação de Francisco Pereira Coutinho (fundada em 1536), na Bahia, em 29 de março de 1549 junto com a esquadra de Tomé de Souza (p. 77). Neste capítulo o autor descreve ainda as dificuldades enfrentadas por portugueses e jesuítas no início do processo de colonização que compreendia principalmente a presença dos índios que resistiam à ocupação e as invasões do litoral por outras nações européias (p. 77).
            A atividade jesuítica no Brasil tinha dois objetivos principais: atender aos propósitos da ordem e a conversão dos índios ao cristianismo (p. 78). Neste sentido, as cartas produzidas pelos primeiros jesuítas em terras brasileiras constituem uma documentação muito rica para o estudo do período colonial brasileiro (p. 78).



Capítulo V: No isolamento: A Natureza

            As cartas jesuíticas tratam de vários aspectos da vida na colônia, incluindo considerações sobre a natureza encontrada. Os documentos mostram uma visão simbólica da natureza, baseada nos escritos bíblicos, e bastante desenvolvida no final do período medieval, marcada pela presença de bestiários e plantas exóticas (p. 97). Além das cartas, o autor ressalta a importância dos mapas que revelavam além da topografia das terras, a fauna, a flora e a representação de animais monstruosos, a exemplo, do mapa “Terra Brasilis”, atribuído a Lopo Homem, que teria sido confeccionado por volta de 1519 (p. 97-98).
            Os relatos jesuíticos, sejam através de cartas ou mapas, são considerados verdades incontestáveis e marcam a mudança no modo de transmitir conhecimento através da oralidade, vigente durante todo o período medieval (p. 99) para documentos escritos.
            As descrições feitas nas cartas pelos jesuítas acerca o mundo natural revelam uma visão utilitária da natureza e cheia de analogias com passagens bíblicas, a fim de facilitar a compreensão do leitor através de comparações (p. 100).

TERCEIRA PARTE: A conquista da terra dos Brasis

Capítulo VI: Os fundamentos religiosos nas metáforas

            As descobertas marítimas rompem com o isolamento do mundo conhecido em relação a outras partes do mundo, as viagens, por sua vez envolviam interesses econômicos, políticos e culturais (p. 109). No século XVI, o Céu e a Terra se confundiam na mente do homem europeu e a origem do mundo acaba sendo confundida com a invenção da América (p. 112).
            O encontro do europeu com o outro “[...] gerou a necessidade de introduzir um processo de transformação ou aproximação que significava a inserção do novo dentro do velho mundo, que se consolidara com a preponderância do modelo europeu.” (p. 114). Com isso os jesuítas buscavam uma catequização feita por meio de metáforas e analogias entre os novos elementos encontrados e as narrativas bíblicas, cujo objetivo era introduzir o indivíduo no universo cristão e europeu.
            Um exemplo de documento que buscava essa aproximação foram os Exercícios Espirituais, criados por Loyola, para a conversão dos índios que pregavam entre outras questões, a oração a fim de afastar as tentações (p. 122). Além disso, a confissão era muito utilizada como forma de controle social, somando-se a isso as analogias com passagens bíblicas utilizadas nas pregações, a exemplo da comparação do jesuíta com o pastor de ovelhas devido à vida difícil na condução dos rebanhos e a comparação dos índios com ovelhas, por serem animais indefesos e sujeitos as tentações do Diabo (p. 133).
            Além disso, os jesuítas pregavam que o controle da natureza era feito por Deus, pois se fosse de sua vontade poderia ocorrer o afundamento dos navios e a morte dos tripulantes (p. 127-128). Os jesuítas também pregavam a existência de forças malignas nos Brasis e a vida difícil do missionário, se referindo a várias batalhas a serem vencidas cujas vitórias eram obra de Deus. Outra questão interessante é essa vida difícil levava os jesuítas a verem os índios como animais ferozes e agressivos (p. 138).

Capítulo VII: O mundo natural convertido

            Neste capítulo o autor vai tratar da conversão da natureza em um espaço considerado civilizado dentro do contexto religioso cristão (p. 148). De acordo com o autor, o processo de conversão dos índios passava pela conversão da natureza a favor do homem.
            Após a longa travessia marítima que também fazia parte da vida missionária, a chegada as terras brasileiras implicava na escola de um local para construção das casas jesuíticas nos povoamentos ou nas aldeias já existentes (p. 150). Essas construções indicam “[...] o paulatino avanço da presença cristã nas novas terras, revelando que a ocupação do espaço era o primeiro passo para a conversão de um mundo caótico para um mundo civilizado.” (p. 150)
            A escolha do local para as construções era feita de cuidadosamente, pois era necessário garantir a sobrevivência dos membros da Companhia como também permitir as atividades catequéticas como missas e confissões (p. 151). Além disso, as construções deveriam ser estratégicas, ou seja, permitir a vigilância dos índios pelos jesuítas (p. 157).
            A escolha do local deveria atender aos seguintes critérios: localização que protegesse de ataques inimigos e facilidade de acesso a produtos agrícolas, fontes de água potável, tipo de solo para a agricultura, facilidade de acesso ao mar, facilidade de conseguir materiais para construção das casas, localização próximo ao litoral (p. 158). As zonas litorâneas eram sempre preteridas para fundação dos núcleos de povoamento, no entanto as limitações quanto à fertilidade da terra obrigava os jesuítas e os colonos a migrarem para o sertão em busca de terras mais férteis depois de algum tempo (p. 159).
            Com relação aos nomes dados aos locais, estes remetiam sempre a nomes de santos como forma de dar-lhes proteção divina e mostrar a superioridade da cultura europeia, uma vez que os nomes anteriores dos locais, dados pelos índios eram ignorados (p. 161).
            Dentro dessa concepção, a vida nômade adotada pelos índios era condenada pelos jesuítas e vista de maneira negativa. A falta de moradia fixa indicava uma sujeição do indígena à natureza levando os jesuítas a considerá-los como animais selvagens que buscavam alimento nas matas (p. 163). As florestas, por sua vez, eram vistas como locais perigosos, habitados por animais ferozes, cheio de morte e pavor que por isso deveriam ser evitadas pelos jesuítas, cristãos e índios convertidos (p. 166). Por outro lado, a floresta era vista como fonte de caça e alimentação para jesuítas e indígenas (p. 169).

QUARTA PARTE: Percepções da Natureza: uma visão utilitária

Capítulo VIII: Além do Bojador a terra dos Brasis

            Até o século XVI, antes das grandes navegações o mundo abaixo do Equador era desconhecido, o que havia eram várias especulações, como por exemplo, se era uma zona tórrida ou aquosa, se tudo acontecia ao contrário visto que era a parte de baixo da Terra ou se era possível à existência humana nessas terras (p. 177-178).
            As novas descobertas e o consequente processo de colonização revelam que o universo descrito na Bíblia é bastante diferente da realidade encontrada (p. 179). Com isso, as novas terras passam a ser compreendidas em dois sentidos: a possibilidade de expandir a agricultura e a possibilidade de realizar o intercâmbio de alimentos do Novo Mundo para a Europa (p. 179). No entanto a incorporação do mundo natural brasileiro ao universo econômico foi lenta, com exceção do pau-brasil que foi explorado comercialmente logo no início da colonização (p. 183). Além disso, a fertilidade da terra também era associada à fertilidade dos homens, fato que favoreceria o povoamento das novas terras (p. 184).

Capítulo IX: Os bons ares da terra dos Brasis: nem frio nem calor

            Neste capítulo o autor vai tratar das descrições dos jesuítas com relação ao clima, descritos por eles como ameno, embora oposto ao clima europeu (p. 191). Para os jesuítas o clima influencia a vida humana tanto positiva quanto negativamente (p. 194), ao mesmo tempo em que pode curar doenças também influencia na moralidade cristã, pois o calor leva a nudez dos índios (p. 195).

Capítulo X: O reino vegetal tubérculos e frutas

Com relação aos vegetais, os jesuítas fazem uma rica descrição de tubérculos, legumes e frutas, com destaque para a mandioca onde foi descrito o plantio, a forma de preparar como alimento e sobre a sua toxidade, pois ao mesmo tempo em que a mandioca garantia a sobrevivência poderia levar a morte se consumida da forma incorreta (p. 202). Os jesuítas ainda descreveram a preparação do cauim, bebida de teor alcoólico preparado com a mandioca que contribuía para a mazela dos indígenas, sobretudo por ser bastante utilizada durante o ritual antropofágico (p. 205).

Capítulo XI: Os males da terra são curados com os bens da terra

Neste capítulo o autor mostra que, para os jesuítas a doença não nascia de uma fraqueza do organismo como se acredita na medicina moderna, mas de uma debilidade ético-moral. Deste modo, a doença é considerada uma manifestação do Diabo e para curá-la era preciso tratar o corpo e a alma (p. 217). Uma questão importante é que faltavam medicamentos para a cura de doenças, por isso os jesuítas eram obrigados a recorrer as “coisas da terra” para curar, neste sentido são descritas várias árvores e plantas medicinais utilizadas com essa finalidade.

Capítulo XII: Na terra dos papagaios: onças, tamanduás, antas, cobras e lagartos

Os animais descritos pelos jesuítas eram sempre comparados a outros semelhantes encontrados na Europa, talvez para facilitar a compreensão daquele que está lendo a correspondência. Os bichos são divididos entre aqueles que têm utilidade e que podem ser utilizados na alimentação, por exemplo, e entre aqueles que oferecem perigo como as cobras peçonhentas que podem até levar a morte (p. 235).



Capítulo XIII: O reino mineral: ouro à vista

            Com relação às riquezas minerais como ouro e prata, enquanto Portugal visava apenas o valor econômico, os jesuítas acreditavam que o ouro atrairia mais europeus para povoar a nova terra e com isso aumentaria o número de cristãos (p. 262). Por isso não hesitavam em descrever as riquezas minerais da colônia.

Considerações Finais

De acordo com a opinião final do autor, evangelizar significava não apenas converter os índios ao cristianismo, mas também converter a natureza em favor dos homens. Para os jesuítas a natureza foi criada por Deus e cabia aos homens dar-lhe utilidade (visão utilitária da natureza) seja na alimentação, na construção das casas, para a caça, agricultura, na cura de doenças e até mesmo para conquistar novos cristãos através das riquezas minerais como é o caso do ouro e da prata.

RESENHA

            O livro oferece uma contribuição bastante relevante sobre a história do Brasil no período colonial, os argumentos utilizados pelo autor ao longo do texto estão embasados em documentos escritos na época, neste caso as cartas escritas por alguns jesuítas da Companhia de Jesus, além de utilizar uma vasta bibliografia que trata sobre o tema. No entanto, o autor poderia utilizar algumas imagens na obra, a exemplo do mapa “Terra Brasilis”, pois facilitaria o entendimento do leitor que não tem grande conhecimento na área e que, portanto não teve a oportunidade de visualizar o mapa.
            Embora o foco do livro não seja retratar os indígenas, mas os aspectos naturais da colônia, o autor poderia aprofundar um pouco mais sobre a visão dos jesuítas sobre os índios, talvez acrescentando mais um capítulo. Ao longo da obra, o autor utiliza alguns poucos parágrafos para retratar os indígenas, despertando assim a curiosidade do leitor, mas as informações param por aí. Talvez se o autor utilizasse um capítulo para retratar os indígenas, tal como fez Laura de Mello em seu livro O diabo e a Terra de Santa Cruz, cujo capítulo foi intitulado Humanidade: predominância da demonização que trata da visão dos europeus sobre habitantes das novas terras, o leitor poderia enriquecer ainda mais seus conhecimentos. A obra de Laura de Mello, cujo foco principal não é retratar a humanidade, mas as práticas de bruxaria e feitiçaria no período colonial apresenta um tópico específico sobre os habitantes do Novo Mundo, fato que ajuda o leitor a entender outros aspectos da mentalidade do homem europeu, além daqueles que a obra se propõe. Deste modo, o autor de “A Terra dos Brasis” também poderia ter acrescentado mais um capítulo sem fugir dos objetivos propostos na obra.
            Por fim, a obra pode ser recomendada ao público especializado como também ao público leigo que tenha interesse em aprofundar os conhecimentos acerca da natureza encontrada nas terras brasileiras no século XVI, pois a linguagem é bastante acessível ao público em geral.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR


SOUZA, Laura de Mello e.  O diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Relatório de Visita ao IHGSE

            A visita ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe foi realizada no dia 07 de Junho de 2013 e contou com a presença dos estudantes Raquel dos Santos e Thiago Santos de Souza. A visita foi auxiliada pela funcionária Naiara (graduada em História pela UFS) que passou todas as informações aos estudantes bem como apresentou os diversos ambientes da instituição.

1. Histórico e seus dirigentes

            O Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) foi fundado no dia 06 de agosto de 1912 por Florentino Teles de Menezes (1886-1959) e mais 21 personalidades, sendo que a grande maioria delas eram bacharéis em Direito. De acordo com Dantas (2012, p. 24), a fundação do IHGSE pode ser considerada tardia, uma vez que da região Nordeste apenas o Maranhão, o Piauí e Sergipe ainda não tinham instituições do gênero, principalmente quando consideramos a gama de intelectuais sergipanos que eram destaque no cenário cultural e intelectual brasileiro.
            Entre as funções do IHGSE estão à valorização dos grandes homens de sua terra, ser um espaço para refletir sobre o “ser” sergipano, qual o seu território a exemplo das discussões sobre os limites de Sergipe principalmente em relação à Bahia, bem como discutir o futuro do Estado. Em síntese podemos afirmar que o objetivo principal da instituição é “aglutinar a intelectualidade e preservar a memória” (DANTAS, 2012).
            A fim de cumprir suas funções sociais o IHGSE realiza continuamente celebrações dos grandes acontecimentos históricos nacionais e estaduais, recepciona intelectuais, homenageia personalidades ilustres já falecidas, promove palestras e eventos de cunho científico, além de disponibilizar seu acervo documental para a pesquisa.
            Ao longo da história dessa instituição a construção da sua sede própria, iniciada em 17/03/1934 durante a gestão do presidente Nobre de Lacerda foi um acontecimento de grande importância. Desde a sua fundação o instituto ocupou vários espaços, muitas vezes cedidos por outras instituições a exemplo do Palácio do Governo e do salão de conferências da Biblioteca Pública até a entrega da sua sede.
            No entanto, a construção da sede do IHGSE foi bastante dificultosa para seus principais idealizadores, o presidente e tesoureiro do período Nobre de Lacerda e Epifânio Dória (gestão 06/08/1927 – 28/06/1935), respectivamente. A construção da sede foi realizada através de doações, mas seu andamento foi bastante prejudicado pelo contexto político, sobretudo pelos desdobramentos da Revolução de 1930 que dificultou a liberação de recursos do governo para a obra. Ainda assim Nobre de Lacerda e Epifânio Dória adquiriram uma casa de um italiano na Rua Itabaianinha, nº 41 por 25 contos de réis e com a venda da mobília antiga desta casa foi possível iniciar a obra em 1934.
            Segundo Dantas (2012, p. 123), o projeto foi elaborado pelo construtor alemão Arendt von Altenesch, vindo da Argentina, que projetava vários edifícios em Aracaju nos anos 30 e divulgava entre nós o estilo Art-déco, que pregava a adesão de formas geométricas regulares. No entanto o projeto inicial de Altenesch com três pavimentos estava acima do orçamento disponível pelo IHGSE, por isso o projeto acabou sofrendo algumas modificações. No ano de 1935 a obra foi paralisada devido à morte de Nobre de Lacerda, sendo reiniciada em 1937 e finalmente inaugurada em 02/04/1939.

    Prédio do IHGSE (Foto: Thiago; data 07/06/2013)

Ao longo da sua existência o IHGSE contou com a colaboração significativa de todos os seus dirigentes e sócios, mas foi durante a gestão de   Ibarê Dantas (19/12/2003 – 19/01/2010) que a instituição passou por uma reforma significativa e por um processo de modernização.
Ao assumir a direção do Instituto Ibarê Dantas encontrou vários problemas como falta de pessoal, prédio deteriorado que não sofria reformas a 12 anos, grande acervo precisando de maior organização e sistematização, escassez de recursos financeiros entre outros. Buscando a solução para esses problemas o então presidente, Ibarê Dantas, contou com a ajuda da imprensa para dar visibilidade aos problemas e chamar atenção dos governantes a fim de angariar recursos para a instituição.
Assim entre os anos de 2004 a 2009 o IHGSE passou por várias reformas como a substituição do telhado, de janelas deterioradas, pintura e reforma do auditório; ajuda de custo mensal para contratar funcionários e estagiários; como também passou por um processo de modernização com a instalação de telefone, internet, criação do site (www.ihgse.org.br); contratação de uma empresa de segurança patrimonial; e desenvolvimento de várias ações culturais e de sociabilidade.
A gestão atual de Samuel Barros (2010) recebeu o instituto em boas condições tanto estruturais quanto financeiras. No entanto, vem realizando várias ações significativas desde a sua posse como a instalação da rampa de acesso e adequação dos banheiros para deficientes físicos, a criação da Coleção Biblioteca “Casa de Sergipe” com 15 títulos apoiada pelo reitor da UFS, realização de eventos em parceria com outras instituições como a UFS e ANPUH-SE, a condução das comemorações do centenário entre outras ações.
De acordo com a funcionária Naiara, na atualidade a instituição não enfrenta nenhum problema sério, verificamos apenas que os computadores destinados à pesquisa não estão funcionando. Na verdade após 100 anos de serviços prestados a sociedade sergipana, o IHGSE possui desafios ao invés de problemas, principalmente com relação à adequação do seu acervo às inovações tecnológicas.
Segue abaixo a lista dos dirigentes até a atualidade:

1.      João da Silva Melo 06/08/1912 – 06/08/1916
2.      Manoel Caldas Barreto Netto 06/08/1916 – 06/08/1921
3.      Manuel Joaquim Pereira Lobo 06/08/1921 – 02/08/1923
4.      Manoel Caldas Barreto Netto 02/08/1923 – 06/08/1925
5.      Cyro Cordeiro de Farias 06/01/1925 – 27/01/1925
6.      Almirante Amintas José Jorge 27/01/1925 – 06/08/1927
7.      Francisco Carneiro Nobre de Lacerda 06/08/1927 – 28/06/1935
8.      Epifânio da Fonseca Dória 27/01/1937 – 06/08/1939
9.      Hunald Santaflor Cardoso 06/08/1939 – 06/08/1941
10.  José Augusto da Rocha Lima 06/08/1941 – 06/08/1945
11.  José Calazans Brandão da Silva 06/08/1945 – 09/08/1947
12.  João Batista Perez Garcia Moreno 09/08/1947 – 06/08/1951
13.  Felte Bezerra 06/08/1951 – 13/08/1953
14.  Enoch Santiago 13/08/1953 – 16/02/1957
15.  Manoel Ferreira da Silva Neto 06/08/1957 – 06/08/1961
16.  Urbano de Oliveira Lima Neto 06/08/1961 – 06/08/1965
17.  José da Silva Ribeiro Filho 06/08/1965 – 05/08/1967
18.  José Bonifácio Fortes Neto 05/08/1967 – 05/08/1969
19.  José Garcez Dória gestões 18/08/1969 – 18/09/1972 e 10/10/1972 – 14/10/1972
20.  Benjamim Alves de Carvalho 18/09/1972 – 10/10/1972
21.  José Silvério Leite Fontes 15/10/1972 – 27/11/1972
22.  Maria Thétis Nunes 27/11/1972 – 19/12/2003
23.  Ibarê Dantas 19/12/2003 – 19/01/2010
24.  Samuel Barros de Medeiros Albuquerque 2010 a atualidade

O horário de funcionamento do IHGSE é de segunda a sexta das 8h às 12h e das 14h às 18h; e sábados das 9h às 12h.
2. Como chegar

            Saindo de carro a partir da UFS até o IHGSE a distância é de 6,4 Km e o tempo estimado é de 11 minutos através da seguinte rota:
1.      Seguir na direção leste pela Avenida Marechal Rondon;
2.      Continue em frente pela Avenida Desembargador Maynard;
3.      Continue em frente pela Avenida Barão de Maruim;
4.      Vire à esquerda na Rua Itabaiana;
5.      O IHGS fica no lado esquerdo da Rua Itabaianinha, nº 41.

As linhas de ônibus que passam próximo ao IHGSE saindo da UFS são: 031 – Eduardo Gomes Desembargador Maynard; 715 – Eduardo Gomes 2 via Tijuquinha; 032 – Tijuquinha Osvaldo Aranha.

3. Referências Bibliográficas

DANTAS, Ibarê. História da Casa de Sergipe: os 100 anos do IHGSE 1912-2012. São Cristóvão: Editora UFS, 2012.

SOUSA, Antônio Lindvaldo. “Um misto de acanhamento e audácia...”: reflexões em torno da identidade sergipana (1910-1930). In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010.

Site: www.ihgse.org.br (Acessado em 07/06/2013)


4. Anexo

    Graduandos Raquel e Thiago (Foto: Naiara; data: 07/06/2013)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Relatório do Seminário: Limites entre Sergipe e Bahia

O grupo iniciou o seminário explicando a metodologia utilizada, sendo organizada da seguinte forma: a) breve histórico sobre a historiografia sergipana acerca dos limites entre Sergipe e Bahia; b) o início capitania de Sergipe com a doação das capitanias hereditárias; c) os antecedentes da independência de Sergipe em relação à Bahia; d) obra de Francisco A. de Carvalho Lima Jr. – 1918; e) obra de Manoel dos Passos de Oliveira Telles – 1919; f) “Limites de Sergipe: Discussão entre os Louvados” de Ivo do Prado – 1932; g) obra de João Pereira Barreto – 1920; h) a questão de limites na atualidade através da análise do Senador Francisco Rollemberg – 1989.
O seminário teve por objetivo apresentar as principais discussões acerca dos limites de Sergipe através da análise de obras do início do século XX como também de uma obra que analisa essa temática na atualidade.

domingo, 13 de novembro de 2011

Uso do privado no público

O discurso modernizador das elites não era ofuscado somente pela condição precária de vida dos homens pobres, mas também pelas relações de poder que nem sempre estavam de acordo com os princípios da ordem e do progresso.
Existiam muitos problemas enfrentados pelos órgãos oficiais no que diz respeito ao cumprimento das leis. Nas comarcas limítrofes, por exemplo, os juízes tinham dúvidas sobre a aplicação da lei aos indivíduos presos que diziam ser de outro Estado. Mas o principal empecilho enfrentado pelos órgãos públicos era a influência dos chefes locais.
Tanto nas comarcas, quantos nas cadeias públicas, nas delegacias e na polícia havia a influência do poder dos chefes locais que contradiziam as leis, as ordens dos chefes oficiais e indicavam pessoas para ocupar cargos públicos.
Toda essa rede de favores e mandonismo dos chefes locais ou coronéis acabava gerando muitos conflitos, que culminava com a renúncia ou a posse arbitrária de pessoas em cargos públicos, a entrega de chefia a pessoas não qualificadas entre outros.
Embora o caos na administração pública em Sergipe fosse aparente, os presidentes do Estado sempre passavam uma imagem de ordem e tranqüilidade, afirmando nos relatórios oficiais que o povo sergipano era pacífico, trabalhador e obediente às leis.
Mas a historiografia demonstra também as contradições do projeto modernizador, como por exemplo, o fato de existirem cadeias públicas mostra que o sergipano não era tão pacífico, evidenciando assim as fragilidades desse discurso produzido pelas elites e para as elites.
O discurso dos presidentes visava à manutenção da imagem moderna e civilizada que as elites haviam projetado, procurando mascarar todas as mazelas sergipanas como a miséria dos trabalhadores, a violência, a inoperância dos órgãos públicos, o quase que total desrespeito as leis entre outros.

Referência:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. “ Uso do privado no público”: ordem pública e coronelismo em Sergipe (1889-1930). In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010.

domingo, 6 de novembro de 2011

O outro lado da modernização...

O acentuado crescimento urbanístico e econômico de Aracaju passou a atrair homens pobres do campo, que vinham para a capital em busca de trabalho e melhores condições de vida no início do século XX.
No entanto, esses imigrantes não tinham condições de atender as exigências municipais quanto a construção das suas casas, como também não tinham recursos para pagar os altíssimos aluguéis da região central de Aracaju. Todas essas dificuldades levaram esses imigrantes pobres a residirem em locais afastados do Centro, fato que começou a preocupar as autoridades guardiãs do discurso modernizador.
O projeto modernizador da cidade não combinava com as construções irregulares e improvisadas da população pobre, que estavam fora da região do quadrado de Pirro. Por isso o governo efetuou várias reformas urbanas nessas regiões como no Santo Antônio, no bairro Industrial e na região do Aribé (atual Siqueira Campos). A integração dessas áreas suburbanas visava o controle do pobre, ensinando-lhe o seu lugar na sociedade.
As desapropriações e reformas urbanas em prol do discurso modernizador também recebiam o apoio das fábricas, sobretudo as têxteis, na capital. Como exemplo, temos a fábrica Sergipe Industrial que construiu uma vila operária e várias construções como igreja, parque de diversões, campo de futebol etc., com o discurso que era para ajudar no desenvolvimento da cidade e ao mesmo tempo reduzir a miséria do trabalhador ao dar-lhe melhores condições de moradia.


Imagem atual da fábrica têxtil Sergipe Industrial. Fonte: Google

Na verdade a intenção desses empresários era integrar o espaço de trabalho com vida pessoal do operário a fim de mantê-lo sob constante vigilância, o que garantiria maior produtividade e aumento dos seus lucros.
As dificuldades enfrentadas pelos operários das fábricas têxteis eram semelhantes ao dos demais trabalhadores, como alimentação precária, problemas de saúde que geravam altos índices de mortalidade infantil, problemas de saneamento básico, e problemas decorrentes do trajeto das suas casas até as fábricas. Todas essas questões são retratadas na obra de Amando Fontes “Os Corumbas”, que se constitui numa rica fonte de informações para quem deseja estudar o período.



Romance "Os Corumbas" e o autor Amando Fontes, respectivamente. Fonte: Google

Em síntese podemos afirmar que a modernização de Aracaju não era perfeita como desejava seus idealizadores, ela tinha um lado contraditório, que era as precárias condições de vida dos imigrantes pobres que chegavam a capital. 

Referência:

SOUSA, Antônio Lindvaldo. “ Parte do outro lado da modernização...”: Aracaju e os homens pobres nas primeiras décadas do século XX. In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010.

domingo, 30 de outubro de 2011

Na busca por uma identidade sergipana

O início do século XX foi marcado por mudanças no aspecto físico de Aracaju e por várias discussões acerca da identidade sergipana. Ambas as questões estavam ligadas ao discurso modernizador das elites e acabaram se tornando alvo crítica.
A elite sergipana defendia em seu discurso a ideia de uma capital moderna e próspera. No entanto esse discurso foi alvo de críticas, como é o caso do francês Paulo do Walle que publicou um artigo no Jornal do Correio do Rio de Janeiro em 1913, afirmando que Sergipe era um estado atrasado devido ao seu isolamento geográfico e ao revezamento de certas famílias no poder, descrevendo ainda Aracaju como uma cidade de palhas.
Em resposta as críticas do francês o intelectual Nobre de Lacerda, defensor do discurso modernizador, publicou um artigo de protesto que dizia o seguinte: a) não há resquícios de casas de palha do período colonial em Aracaju, pois a mesma foi fundada em 1855, ou seja, durante o Império; b) não existe troca de poder entre parentes em Sergipe como podemos observar ao listar todos os governantes desde a Proclamação da República, verificando que nenhum era parente entre si.

Nobre de Lacerda - defensor do discurso modernizador. Fonte: Google

O artigo de Lacerda foi benquisto pela elite sergipana e pelo IHGS – Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe que o aceitou para publicação na revista da instituição no mesmo ano, em 1913.

IHGS localizado na Rua Itabaianinha no Centro de Aracaju. Fonte: Google

A inquietação provocada pelo artigo do francês em Lacerda e na intelectualidade sergipana aponta para questões que envolvem a construção da identidade do sergipano, que segundo Silvério Leite Fontes sofre de um complexo de inferioridade. Deste modo o discurso modernizador surge como uma compensação para esse sentimento. Ainda segundo Fontes, o complexo de inferioridade do sergipano leva muitos indivíduos a fugirem do Estado, já os que decidem ficar passam atuar como contestadores dos problemas sergipanos.

Silvério Leite Fontes. Fonte: Google

Para Fontes (1992, p. 17 apud SOUSA, 2010, p. 131) “a insegurança psicológica do sergipano exige que seus nomes maiores sejam reconhecidos pelos outros, para, somente assim, calarem fundo na valorização própria.” Ou seja, o reconhecimento de nomes sergipanos fora do Estado eleva a estima do povo, contribuindo assim para a construção de uma identidade coletiva. O papel do IHGS tem sido justamente este desde a sua fundação, elevar o nome de indivíduos ilustres a fim de construir uma identidade condizente com a nova ordem social almejada.
Em síntese podemos afirmar que a construção de uma identidade dita sergipana implica no resgate de grandes nomes do passado, feita principalmente por instituições sociais como é o caso do IHGS.

Referência:

SOUSA, Antônio Lindvaldo. “Um misto de acanhamento e audácia...”: reflexões em torno da identidade sergipana (1910-1930). In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010. 

domingo, 16 de outubro de 2011

Aracaju desponta para a modernidade

                                          Região dos mercados em Aracaju. Fonte: Google

A fundação de Aracaju em 17 de março de 1855 por Inácio Barbosa foi fruto do desejo de construir uma cidade moderna em Sergipe, associada à necessidade de um porto para escoar as riquezas da região da Cotinguiba.
No entanto, Aracaju só passou a corresponder a essa imagem idealizada nas primeiras décadas do século XX, superando a imagem de cidade inviável, cheia de pântanos e dunas que facilitavam a disseminação de doenças.
A imagem de cidade moderna, centro dos principais acontecimentos do Estado foi sendo construída através de uma discurso modernizador, presente nas mensagens do Governo, de comerciantes e de jornais locais.
A fim de consolidar a imagem de cidade moderna e desenvolvida foram tomadas algumas medidas pelo governo, como por exemplo, diversas inaugurações que contavam com o apoio publicitário dos jornais. Foram inauguradas praças, linhas de bondes, aterramentos de lagoas, institutos científicos e escolas. Merece destaque a inauguração da Escola Federal de Aprendizes e Artífices em 1911, que mobilizou muitos cidadãos sergipanos, autoridades e pessoas ilustres, com direito a discurso e banda de música.
Além das inaugurações vale ressaltar o estabelecimento dos Códigos de Posturas que se preocupavam com questões higiênicas, de segurança e de embelezamento, além disso, temos a instalação do relógio público em substituição ao “grito do galo” para marcar as horas, mostrando-se um importante símbolo da nova ordem social.   
Aracaju começou a se destacar nas primeiras décadas do século XX como sede político-administrativa e o maior centro comercial do Estado, sobressaindo-se sobre os demais municípios que começaram a entrar em decadência. A partir de 1910 muitas famílias abastadas mudaram para Aracaju, atraídas pelas maravilhas de uma cidade moderna e em pleno desenvolvimento. Os jovens de famílias ricas iam estudar em outros estados devido à ausência de cursos superiores em Sergipe, muitos deles não retornavam, mas aqueles que decidiam voltar almejavam melhorar o aspecto físico da cidade e assim contribuir para o desenvolvimento nacional.
Podemos concluir que Aracaju só passou a corresponder aos anseios dos seus fundadores a partir do início do século XX, através do discurso modernizador que procurava passar uma imagem positiva da cidade. Só a partir desse momento é que Aracaju passou a atrair uma elite rica e escolarizada, que apostava no desenvolvimento da cidade e sugeria melhorias.

Referências:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. “Ave branca que voa dos pântanos para o azul...”: as elites e o projeto modernizador de Aracaju nas décadas de 1910 a 1930. In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010.