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domingo, 30 de outubro de 2011

Na busca por uma identidade sergipana

O início do século XX foi marcado por mudanças no aspecto físico de Aracaju e por várias discussões acerca da identidade sergipana. Ambas as questões estavam ligadas ao discurso modernizador das elites e acabaram se tornando alvo crítica.
A elite sergipana defendia em seu discurso a ideia de uma capital moderna e próspera. No entanto esse discurso foi alvo de críticas, como é o caso do francês Paulo do Walle que publicou um artigo no Jornal do Correio do Rio de Janeiro em 1913, afirmando que Sergipe era um estado atrasado devido ao seu isolamento geográfico e ao revezamento de certas famílias no poder, descrevendo ainda Aracaju como uma cidade de palhas.
Em resposta as críticas do francês o intelectual Nobre de Lacerda, defensor do discurso modernizador, publicou um artigo de protesto que dizia o seguinte: a) não há resquícios de casas de palha do período colonial em Aracaju, pois a mesma foi fundada em 1855, ou seja, durante o Império; b) não existe troca de poder entre parentes em Sergipe como podemos observar ao listar todos os governantes desde a Proclamação da República, verificando que nenhum era parente entre si.

Nobre de Lacerda - defensor do discurso modernizador. Fonte: Google

O artigo de Lacerda foi benquisto pela elite sergipana e pelo IHGS – Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe que o aceitou para publicação na revista da instituição no mesmo ano, em 1913.

IHGS localizado na Rua Itabaianinha no Centro de Aracaju. Fonte: Google

A inquietação provocada pelo artigo do francês em Lacerda e na intelectualidade sergipana aponta para questões que envolvem a construção da identidade do sergipano, que segundo Silvério Leite Fontes sofre de um complexo de inferioridade. Deste modo o discurso modernizador surge como uma compensação para esse sentimento. Ainda segundo Fontes, o complexo de inferioridade do sergipano leva muitos indivíduos a fugirem do Estado, já os que decidem ficar passam atuar como contestadores dos problemas sergipanos.

Silvério Leite Fontes. Fonte: Google

Para Fontes (1992, p. 17 apud SOUSA, 2010, p. 131) “a insegurança psicológica do sergipano exige que seus nomes maiores sejam reconhecidos pelos outros, para, somente assim, calarem fundo na valorização própria.” Ou seja, o reconhecimento de nomes sergipanos fora do Estado eleva a estima do povo, contribuindo assim para a construção de uma identidade coletiva. O papel do IHGS tem sido justamente este desde a sua fundação, elevar o nome de indivíduos ilustres a fim de construir uma identidade condizente com a nova ordem social almejada.
Em síntese podemos afirmar que a construção de uma identidade dita sergipana implica no resgate de grandes nomes do passado, feita principalmente por instituições sociais como é o caso do IHGS.

Referência:

SOUSA, Antônio Lindvaldo. “Um misto de acanhamento e audácia...”: reflexões em torno da identidade sergipana (1910-1930). In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010. 

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