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domingo, 13 de novembro de 2011

Uso do privado no público

O discurso modernizador das elites não era ofuscado somente pela condição precária de vida dos homens pobres, mas também pelas relações de poder que nem sempre estavam de acordo com os princípios da ordem e do progresso.
Existiam muitos problemas enfrentados pelos órgãos oficiais no que diz respeito ao cumprimento das leis. Nas comarcas limítrofes, por exemplo, os juízes tinham dúvidas sobre a aplicação da lei aos indivíduos presos que diziam ser de outro Estado. Mas o principal empecilho enfrentado pelos órgãos públicos era a influência dos chefes locais.
Tanto nas comarcas, quantos nas cadeias públicas, nas delegacias e na polícia havia a influência do poder dos chefes locais que contradiziam as leis, as ordens dos chefes oficiais e indicavam pessoas para ocupar cargos públicos.
Toda essa rede de favores e mandonismo dos chefes locais ou coronéis acabava gerando muitos conflitos, que culminava com a renúncia ou a posse arbitrária de pessoas em cargos públicos, a entrega de chefia a pessoas não qualificadas entre outros.
Embora o caos na administração pública em Sergipe fosse aparente, os presidentes do Estado sempre passavam uma imagem de ordem e tranqüilidade, afirmando nos relatórios oficiais que o povo sergipano era pacífico, trabalhador e obediente às leis.
Mas a historiografia demonstra também as contradições do projeto modernizador, como por exemplo, o fato de existirem cadeias públicas mostra que o sergipano não era tão pacífico, evidenciando assim as fragilidades desse discurso produzido pelas elites e para as elites.
O discurso dos presidentes visava à manutenção da imagem moderna e civilizada que as elites haviam projetado, procurando mascarar todas as mazelas sergipanas como a miséria dos trabalhadores, a violência, a inoperância dos órgãos públicos, o quase que total desrespeito as leis entre outros.

Referência:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. “ Uso do privado no público”: ordem pública e coronelismo em Sergipe (1889-1930). In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010.

domingo, 6 de novembro de 2011

O outro lado da modernização...

O acentuado crescimento urbanístico e econômico de Aracaju passou a atrair homens pobres do campo, que vinham para a capital em busca de trabalho e melhores condições de vida no início do século XX.
No entanto, esses imigrantes não tinham condições de atender as exigências municipais quanto a construção das suas casas, como também não tinham recursos para pagar os altíssimos aluguéis da região central de Aracaju. Todas essas dificuldades levaram esses imigrantes pobres a residirem em locais afastados do Centro, fato que começou a preocupar as autoridades guardiãs do discurso modernizador.
O projeto modernizador da cidade não combinava com as construções irregulares e improvisadas da população pobre, que estavam fora da região do quadrado de Pirro. Por isso o governo efetuou várias reformas urbanas nessas regiões como no Santo Antônio, no bairro Industrial e na região do Aribé (atual Siqueira Campos). A integração dessas áreas suburbanas visava o controle do pobre, ensinando-lhe o seu lugar na sociedade.
As desapropriações e reformas urbanas em prol do discurso modernizador também recebiam o apoio das fábricas, sobretudo as têxteis, na capital. Como exemplo, temos a fábrica Sergipe Industrial que construiu uma vila operária e várias construções como igreja, parque de diversões, campo de futebol etc., com o discurso que era para ajudar no desenvolvimento da cidade e ao mesmo tempo reduzir a miséria do trabalhador ao dar-lhe melhores condições de moradia.


Imagem atual da fábrica têxtil Sergipe Industrial. Fonte: Google

Na verdade a intenção desses empresários era integrar o espaço de trabalho com vida pessoal do operário a fim de mantê-lo sob constante vigilância, o que garantiria maior produtividade e aumento dos seus lucros.
As dificuldades enfrentadas pelos operários das fábricas têxteis eram semelhantes ao dos demais trabalhadores, como alimentação precária, problemas de saúde que geravam altos índices de mortalidade infantil, problemas de saneamento básico, e problemas decorrentes do trajeto das suas casas até as fábricas. Todas essas questões são retratadas na obra de Amando Fontes “Os Corumbas”, que se constitui numa rica fonte de informações para quem deseja estudar o período.



Romance "Os Corumbas" e o autor Amando Fontes, respectivamente. Fonte: Google

Em síntese podemos afirmar que a modernização de Aracaju não era perfeita como desejava seus idealizadores, ela tinha um lado contraditório, que era as precárias condições de vida dos imigrantes pobres que chegavam a capital. 

Referência:

SOUSA, Antônio Lindvaldo. “ Parte do outro lado da modernização...”: Aracaju e os homens pobres nas primeiras décadas do século XX. In:_____Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010.